Coleciono mulheres… desde a Emília e a Narizinho, sempre me pareceram mais interessantes que os meninos… mais vulcânicas, mais imprevisíveis, mais capazes de se entregar à loucura, de se autodestruir ou – olhando por outro lado, incapazes de se preservar. Juntando ao assunto a história da Europa na primeira metade do século XX, temos uma novela e tanto, cheia de heroínas interessantíssimas: mulheres estoicas com histórias divinas de muita coragem ou muita loucura, capazes de se consumir por amor a um homem ou a um ideal, abrindo nosso caminho, lanternas do nosso futuro!
Agradeço profundamente a cada uma delas, que afirmaram sua força sem negar sua feminilidade.
Isadora, a mãe da dança moderna, a bailarina da natureza que soltou os cabelos e tirou os sapatos, dançou em vestes gregas. Nasceu na América, filha de um banqueiro que faliu e cresceu na pobreza. Aos seis anos de idade já dava aulas de dança para ajudar a mãe, que estava divorciada. Mudou-se para Londres em 1898, onde começou a desenvolver seu trabalho. Viveu também na Alemanha, Paris e Moscou, sempre focada na idéia de criar a beleza e ensinar. Completamente fora dos padrões, era bissexual, comunista e teve 3 filhos “ ilegítimos” – palavra horrível, todo filho é legítimo. Morreu enforcada na echarpe, que se enrolou na roda de um conversível, na Riviera Francesa.
http://www.isadoraduncan.org/the-foundation/about-isadora-duncan
Josephine Baker, a dançarina selvagem que abalou Paris. Nascida em St Louis, teve um infância miserável, revirando lixo atrás de comida. Aos 15 já dançava em um vaudeville e aos 19, em Paris. Foi uma grande estrela do Folies Bergère. Espionou para os aliados na Segunda Grande Guerra. Foi ativista pelos Direitos Humanos. Adotou 12 crianças, de várias nacionalidades e cores – a Tribo Arco Íris, para mostrar que crianças de diferentes etnias podiam viver em harmonia.
Simone Beauvoir, que escreveu o livro mais chato do mundo – O Segundo Sexo – mas escreveu também livros autobiográficos deliciosos, desistiu de um amante e grande amor americano – o escritor Nelson Algren, sem conseguir se desprender de Sartre – desejo meu, provavelmente não dela. Bissexual assumida, dividia amantes com o marido, com quem tinha uma “relação intelectual”… mas também tinha crises de ciúmes, de raiva e foi tão apaixonada por Algren que, agonizante, pediu para ser sepultada com ele - pelo menos é o que diz a lenda.
Margherite Duras, que escreveu os livros mais tristes do mundo. Nasceu e viveu na Indochina Francesa (atual Vietnam) até os 17 anos, em situação de pobreza, quando mudou-se para a França. O livro “O Amante”, de 1984, sobre seu envolvimento aos 15 anos, com um jovem e rico chinês de 27, ganhou o Prix Goncourt e rendeu, em 1992, o filme com o mesmo nome, muito bonito, fez o maior sucesso. Foi a roteirista de um dos filmes mais lindos que já assisti: “Hiroshima mon amour”. Participou da Resistência Francesa, integrou o Partido Comunista Francês. Dirigiu também alguns filmes, mas não os conheço para palpitar.
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-1665/trailer-19535207/
https://www.youtube.com/watch?v=EFo2DYMWvk8
Charlotte Perriand, uma das mulheres mais increditáveis de todos os tempos. Arquiteta e designer, desenvolveu a base do desenho que é moderno até hoje com a vanguarda européia. Muitas das peças que atribuimos a Le Corbusier levam sua assinatura e foram desenvolvidas enquanto trabalhavam juntos. Apaixonada pelo Japão, foi contratada pelo governo para desenvolver produtos que fossem bem aceitos pelo Ocidente e criar uma ponte entre as culturas, sem precedentes. Ficou “presa” no Vietnam, com uma bebê, durante a Segunda Grande Guerra…
No link abaixo, alguns exemplos do trabalho:
http://www.cassina.com/en/designer/charlotte-perriand
Moral da história: “vam bora” mulherada…